Assisti "The Mist" há muito tempo atrás no cinema. Achei tosco,
bizarro, mal feito e sai falando super mal, desconfio que tava de TPM
esse dia. Fui totalmente ingrata com esse filme, já revi diversas vezes (é...., eu
tenho essa mania de ficar revendo filme, é legal, às vezes mudo minha
opinião, as vezes passo a gostar mais, reparo os detalhes....) e, atualmente, acho
simplesmente genial.
"Claro.
Contanto que as máquinas funcionem e o 190 atenda. Tire isso, deixe
todo mundo no escuro e assustado e as regras se vão. As pessoas vão
recorrer a quem quer que ofereça uma solução. Somos fundalmentamente
insanos como espécie. Coloque gente suficiente num quarto e é só uma
questão de tempo até cada metade começar a imaginar maneiras de matar a
outra", respondem os pessimistas (ou seriam realistas?).
Munido desse roteiro ácido e politizado, de sua autoria, Frank Darabont adapta pela 4ª vez uma obra do mestre Stephen King.
Ele
trabalha num nível além da lógica do susto, que move o gênero e que nem
sempre funciona. "O Nevoeiro" não é exatamente uma obra de terror. Há
monstros, há perigos, há medo, mas não é o horror que dá o tom central
do filme. O orçamento barato - o filme não parece ter vergonha disso -
garantiu efeitos visuais de segundo escalão (esse foi um dos motivos que
me fez desgostar da 1ª vez), mas mesmo que estejamos diante de um filme
de ficção científica ou de terror, não é o visual o que mais importa. O
Nevoeiro é um daqueles estudos do comportamento humano num ambiente de
desespero. Para o escritor, o mais assustador que o homem pode
encontrar pela frente é o espelho. É nele que vemos monstros de verdade.
Quando
uma névoa misteriosa deixa preso um grupo de pessoas dentro de um
supermercado, estamos diante da civilização em reverso, elas podem
tornar-se tão perigosos quanto os monstros que estão fora. Stephen King
nos amedronta mesmo é com uma volta a barbárie. Ele aposta no desespero
como consequência do nosso medo do desconhecido, que transforma o homem
numa aberração. Onde apontar inimigos a sua volta parece a única coisa
que resta quando o que importa é sobreviver. Cada uma das pessoas
trancadas naquele espaço tem que aprender a se portar diante da perda do
controle diante da situação: é aí que surgem a política, a organização
social e a religião – e, então, aparecem os papéis. É uma verdadeira
aula de sociologia. E Daranbont filma essa confusão exemplarmente, com
movimentos de câmera inteligentes, aproveitando ao máximo o cenário mega
limitado. Ele dosa super bem o suspense e o drama. A ação e o horror
existem, mas é o desespero da expectativa que torna "O Nevoeiro" um
excelente filme. Em uma das cenas por exemplo, o destino do motoqueiro é
contado pela tensão no cordão que o grupo tenta puxar de volta, é tudo
pura sugestão.
Em tempos de fúria, o oráculo
interpretado por Marcia Gay Harden, talvez no momento mais alto de sua
carreira, ganha um destaque inevitável. Mas Thomas Jane (o Justiceiro
:P), um ator limitado, dá uma credibilidade inesperada a seu herói
comum. Em torno deles tem um grupo de coadjuvantes eficientes. Daranbont
sabe explorar os personagens com calma, dando espaço para os atores
dimensionarem seus papéis e nos entregarem belas interpretações.
"O
Nevoeiro" é um dos poucos filmes que sabem usar o material original
como plataforma para um salto maior, e não apenas uma mera adaptação
como tem de bolo por aí ultimamente. A cena final (sem spoilers eu sei)
coroa este projeto com coragem e uma desenvoltura impressionante.
Algumas informações retiradas do excelente: filmes do chico.
Nota: 10 de 10
Excelente crítica, Rebeca. Quando você percebe que o foco do filme não é o terror que a Neblina traz, ou as criaturas e sim as próprias pessoas, o ser humano e a sua natureza, percebe o quanto o filme é bom.
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