quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Doze Homens e Uma Sentença (Angry Men)


Caso: homicídio
Acusado: jovem de 18 anos filho da vítima
Local do crime: apartamento da vítima
Arma do crime: faca
Testemunhas: um velho manco que morava no andar de baixo e uma senhora super vaidosa que morava no prédio da frente

Mais do que um filme, “Doze Homens e Uma Sentença” (Angry Men) é um verdadeiro estudo do comportamento humano em grupo. Através de doze homens trancafiados em uma sala para decidir o destino de um garoto de 18 anos – culpado ou inocente? – somos confrontados com doze personalidades e valores totalmente diferentes. Homens esses, que a primeira vista são estereotipados, com seus paletós e cigarros, mas que, conforme o longa se desenrola vão ficando cada vez mais distintos, mostrando quem realmente são.

Ao inicio apenas um dos homens, o jurado 8 (Henry Fonda), vota pela inocência do réu, não por achar que o acusado era realmente inocente, mas também não o achava culpado, ele apenas queria sair dali com a certeza que votou com consciência e racionalidade após discutir o assunto,  mostrando desta forma admiráveis valores universais. Os outros jurados votaram contra sem ao menos discutir o caso e expor suas motivações, alguns por falta de ética, pois gostariam apenas de encerrar logo a reunião para ir a algum jogo idiota de futebol ou simplesmente se livrar do intenso calor, outros porque foram influenciados. O fato é que a maioria dos jurados acreditava na culpa do acusado, pois se baseavam no fato dele ser um rapaz pobre, maltratado a vida inteira, que nasceu em cortiço, teve a mãe morta, já ter ido ao reformatório, enfim, o julgavam apenas como um garoto problema, deixando de lado suas outras características (efeito de halo), assim como os inúmeros casos da vida real.


Para convencer os outros jurados a discutir o caso, o jurado 8 recorre a um vasto conhecimento, munido de uma habilidade de decifrar fatos e de argumentação, ao apresentar provas que colocam em dúvida a participação do adolescente naquele crime, questionando mais do que as decisões de todos os outros, mas os princípios e valores que dão sentido à vida humana. Aos poucos o caso vai sendo exposto a partir das visões e argumentos de cada um. O que um julgava ser um fato já bem esclarecido, é questionado por outro, e o que aparentava ser um caso de veredito claro, se torna um campo de tensão de desentendimento criado pelas diferentes interpretações e pela impaciência daqueles que ansiavam por terminar logo aquilo. As argumentações são sempre baseadas em fatos relevantes que começam a colocar em dúvida a culpa do acusado. Em nenhum momento têm-se a certeza de nada. Não se pode condenar alguém à morte assim. Neste ritmo, com as dúvidas palpitando sobre a mesa, os princípios e valores vão sendo resgatados e em sucessivas votações que se seguem, os favoráveis à absolvição aumentam. Desta maneira, os argumentos da defesa vão se tornando cada vez mais sólidos e a dúvida que consome os doze homens, cada vez mais próxima de definir o destino de uma pessoa.


Ao decorrer do filme, a interligação psicológica entre os doze homens é notada de forma que o espectador consegue mencionar, um a um, os pontos de vista dos jurados e, principalmente, as mudanças que estes vão sofrendo. É impressionante a experiência de entrar na mente de doze personagens, que pensam nos mesmos fatos, cada qual baseado em seus peculiares valores e movidos pelas emoções. Uma cena bastante forte é a que o jurado 10 explode num discurso vazio e cheio de preconceito e, imediatamente, todos os outros onze homens dão as costas, independente de terem votado culpado ou inocente, o que mostra que as pessoas devem deixar os preconceitos de lado diante de uma situação destas.

Spoiler abaixo

Ao final a humanização surge, quando todos os jurados, de forma dramática, se convencem que não se pode condenar alguém à morte sem ter absoluta certeza da culpa. Encerrando, desta forma, magistralmente esse filme que é mais do que uma viagem à sala do júri. É uma viagem fascinante pela mente de 12 homens em fúria.

Nota: 9,5

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