sexta-feira, 29 de maio de 2015

O Clube do Imperador e seus dilemas éticos


O  filme “O Clube do Imperador” nos traz a tona diversos dilemas de ética e moral que nos faz deparar com uma série de questões. Afinal, vivemos um determinismo, onde o homem nasce bom e o convívio social o corrompe? Ou ele simplesmente nasce mal e a sociedade não tem poder nenhum de influência sobre ele?  O caráter de um homem é o seu destino? Até que ponto o convívio diário com os professores pode influenciar as atitudes dos estudantes? Como o meio age na vida de um sujeito?
Ao início, somos apresentados a uma linda escola com arquitetura estilo medieval de alta-elite que busca formar futuros líderes e grandes homens de negócios, com uma fotografia que usa e abusa de filtros amarelo-esverdeados ao mostrar esse universo escolar, o que nos remete aos contos de fadas. No entanto, não se trata de Hogwarts, nem toda estória infantil é para sempre, e quando saímos dela nos deparamos com os problemas da vida real, de princípios e caráter, onde cada ação gera uma consequência.
 

A trama gira em torno de dois personagens centrais: um professor de história Antiga, conceituado e respeitado por seus alunos, rígido com valores, ética e conduta moral que sempre primou pela retidão em todos os aspectos de sua vida; e Bell, um aluno rebelde, que tem pouco interesse pelos estudos, filho de um senador mau caráter cheio de falhas morais e éticas.  O professor enxerga neste garoto alguém com bastante potencial, desta maneira procura modelar seu caráter, mas, ao final, termina por falhar, afinal, a influência do pai no caráter do menino foi bem maior do que a do professor, o que nos faz reforçar o ditado popular “filho de peixe, peixinho é”.


Um momento central para o decorrer do longa  é o que o professor vai contra todos os seus princípios trapaceando na classificação da competição “Júlio César”, que consistia em um game de história antiga onde somente os três melhores alunos iam para a grande final e apenas um ganhava os louros da vitória. O professor passou o Bell na frente de outro candidato com a esperança de uma mudança no garoto, e que ele pudesse vencer o jogo por seus próprios méritos, afinal, os fins justificam os meios, e para isto ele creditou no menino sua postura. Porém, o que o professor não contava era que o rapaz fosse desonesto e roubasse no concurso.
Vinte anos depois, quando ocorre uma nova competição, o professor se depara com a mesma situação: acredita que o Bell havia se redimido e queria corrigir seu erro, mas, infelizmente, o agora candidato a senador, comete à mesma falha ética de antes, o que só prova que o ditado de Aristófanes citado em um dos diálogos do filme só estava certo - "A juventude envelhece, a imaturidade é superada, a ignorância pode ser educada e a embriaguez passa, mas a estupidez dura para sempre”. O Bell havia reunido os antigos colegas não para se redimir, e sim por pura politicagem, afinal, todos os grandes nomes de cada área dos negócios estavam lá, e ele queria lançar seu nome como futuro candidato ao senado.
Desta maneira, nos é passado que o determinismo não se aplica, pois apesar de toda a influência positiva do professor para moldar o caráter do garoto, ele não mudou. Porém, o homem é fruto de suas escolhas, cabendo a ele decidir como, e até mesmo, se vai se encaixar em certa realidade, de forma que possa dissolver-se neste meio ou se entregar de maneira que mantenha alguma coisa de sua originalidade, é o que faz o personagem do filme, ele se entrega ao coletivo, mas não se corrompe pelo meio, pois ao final ele era o que sempre tinha sido. Acreditamos que o meio não pode mudar o sujeito a não ser que exista uma aceitação do indivíduo, do contrário ele pode entrar em qualquer meio e continuar sendo ele. Ou seja, “o caráter não e inato no sujeito, o caráter e formado a partir do momento em que o sujeito se percebe como senhor de desejos e sonhos e que tem um preço a pagar para atingir cada um deles”, onde se pode perceber que quando o professor fala com o senador que pretende formar o caráter do seu filho, o senador responde sabiamente, que o papel do professor é ensinar o seu filho, mas o caráter do mesmo, ele, o próprio pai se encarregaria.
Não se muda o caráter de alguém, propõe o filme. O único momento em que Bell titubeia em sua falha conduta ocorre quando o seu filho pequeno escuta sem querer ele falando de suas trapaças. Ele se envergonha, mostrando que, no final, sabe que está errado, sabe que há um comportamento aceitável e outro inaceitável, há uma ética presente em todos os humanos, independentemente da origem e criação.


Ao final, os outros alunos ensinam ao professor e a nós que “por mais que tropecemos, o fardo de um professor é sempre esperar que o ensino mude o caráter de um garoto e assim o destino de um homem”, apesar de que uma educação por melhor que seja não ter o poder de alterar o caráter de uma pessoa, a não ser que o próprio sujeito permita, e o Bell não permitiu. Assim, “O Clube do Imperador” nos transmite a importância da ética e da honestidade na educação e na vida de uma pessoa.


Nota: 10

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